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14 outubro 2010

Eu sou Marketeiro





   - É, essas pessoas demasiadamente consumistas sem objetivos relevantes na vida também me dão enjôo. Tipo uma mina da minha faculdade que só de olhar pra cara dela você vê que com certeza o que rege sua vida são os artigos da Gloria Kalil.

   - Ahh, tu faz faculdade, que curso?

   - Eu? Bem... Eu faço Publicidade e Marketing.

   - Hum. - Imediatamente a pessoa desvia o olhar e a decepção exala por todos os seus poros - Foi bom conversar contigo, mas eu tenho que ir, até mais.

   Quando você faz esse "tipo" de curso automaticamente seu direito de criticar uma posição consumista acaba. Maaas, se você não liga ser considerado hipócrita, manipulador e safado, pode se expressar à vontade. Bem da verdade, 95% dos publicitários são essencialmente hipócritas, manipuladores e safados, como 95% da população mundial também é.

   É bem provável que neste momento você esteja pensando que eu estou aqui para dizer que faço parte do resquício de altruísmo que preenche os míseros 5%, e estou de mãos dadas com pessoas como Oprah Winfrey e Bono Vox (Sim, aposto que você considera-os extremamente benevolentes! Danger! Olha a hipocrisia aí novamente), então relaxa que a minha hipocrisia ainda não está nesse nível tão elevado.

   A minha real indignação é com um conceito pré-concebido de que todos os publicitários, profissionais de marketing e afins possuem um único objetivo na vida, enriquecer loucamente criando desejos e transformando-os em necessidades. Eu até entendo esses tipos de preconceitos sabe, por exemplo, também acho que os estudantes de biologia são todos maconheiros e encontraram neste curso um apoio acadêmico (e legal, de legalidade) para consolidar sua rotina de mato e marofa, como também acho que qualquer estudante da USP é insuportavelmente inteligente, do tipo que não pode cuspir que já quer fazer uma tese sobre isso.

   Mais do que qualquer outro adjetivo pertinente para descrever o ser humano, preconceituoso talvez seja o mais saliente. Sempre olhamos através de nossas "velhas opiniões formadas sobre tudo" e queremos com isso... Bem, sei lá, na maioria das vezes nem sabemos o que queremos,  talvez só interagir iniciando um diálogo banal. Sabemos de mil coisas das quais nunca sequer conhecemos ou vivenciamos, e falamos sobre essas coisas com tamanha propriedade que elimina qualquer dúvida do ouvinte. Por exemplo (adoro exemplos!), todo mundo sabe que a Holanda é o melhor lugar para se viver, lá é tudo "liberado", tu pode sair peladão com um baseado na mão, pode ser homem e transar com seu melhor amigO na pracinha central, todo mundo sabe disso! Todo mundo sabe que a Dilma é terrorista e assaltante, e que deu um parente próximo para uns canibais em troca de umas obras de Karl Marx, todo mundo sabe também que se ela for eleita a ditadura comunista se estabelece, é certeza! TODO MUNDO SABE, inclusive, que todo publicitário é fútil e filho da puta, que ele enfia produtos na sua goela sem você perceber e que ele é o verdadeiro culpado por seu nome estar no SPC e no SERASA, quem não sabe disso???

   Falando sério agora (enfim!), sobre as ferramentas persuasivas marketeiras que tanto fodem a sua vida, elas são FERRAMENTAS e como tal podem ser usadas de infindáveis maneiras. Elas têm um valor, talvez imensurável, e esse valor se dá pelo poder que elas têm de convencimento, de convergência, de fazer você levantar a bunda do sofá pra agir de determinada maneira, que pode ser boa pra você ou não. Lembro-me daquele filme, O Livro de Eli, no qual um livro (a Bíblia) é batalhado num cenário pós-apocalíptico por dois personagens, um com motivações para o bem e o outro, para o mal. O livro tem um poder, nada semelhante aos poderes dos Power Rangers, tem um poder manipulatório em suas escritas sagradas, por favor, não estou falando de religião aqui ok?! O foco desse filme é exatamente esse, a interpretação. Duas pessoas tiveram contato com uma ferramenta extremamente poderosa mas interpretaram e as usaram de maneiras divergentes, e é isso que ocorre com as ferramentas de marketing, nada mais.

   Confesso que no decorrer desse curso maldito, em mil momentos pensei em desistir, em mil situações pensei em cortar certos professores, principalmente na região da cabeça, mas no instante em que se percebe a relevância da informação, a relevância de estar ali e poder com propriedade criticar ou elogiar toda essa metodologia "dus inferno", você instantaneamente sente que sim, vale à pena. É como ouvi certa vez: "Não tem como criticar as letras dos Racionais Mcs sem nunca ter vivido no Capão Redondo".

   Devo dizer que, sinceramente, não tenho a menor ideia do tema central desse post. Vou finalizá-lo, portanto, te convidando a tentar olhar as coisas com um olhar bem mais virgem sabe, como se você olhasse para o incognoscível, para o desconhecido, tentando avidamente decifrá-lo, de maneira que sua expressão mais comum seja aquela da "cara de  interrogação". Quando partimos desse princípio nós nos permitimos aprender mais, viver mais, ouvir mais, não trocamos a real experiência por uma opinião sem embasamento idiota, afinal... Não há certezas, há sim possibilidades.

Bia Moraes

3 comentários:

Mariana Dias disse...

NOSSA, eu tava rachando aqui soh q eu nao to num lugar muito aproprado pra isso! huahuahuahua
Eu tava achando esse texto completamente inteligente e engracado, e ao mesmo tempo que pensava nas perguntas que ele me incitava tinha um pensamento paralelo: sera q eh a Bia q escreveu?...meio q torcendo por isso, pq sentia uma pontinha de orgulho de algo familiar...Mas ai no fim vi o nome escrito e nao tive duvidas: soh podia ser vc mesmo neh, fodastica.
Serio, por mais que existam motivos pessoais fortissimos pra puxar seu saco, eu REALMENTE amei o texto!
Esse negocio de estereotipo dah muito pano pra manga. Eu tento ter esse olhar virgem mas sempre me surpreendo com minha hipocrisia. E como vc disse, mesmo que me esforce pra ser melhor, vou sempre ser agraciada com as incertezas. Mas esse negocio de possibilidade me lembra a maldita ideia de que "tudo eh relativo", mas sei q isso eh o maximo q podemos chegar...
Bem, sempre que um questionamento desses surgir na sua cabecinha, nao deixe de escrever algo, vc tem o dom garota. Agora deu mais saudade de sentar e trocar uma ideia loka com vc.

"Kendy disse...

Marketing como provocação. Comunicação social não é um "tipo" de ensino, é um exercicio de identidade.

Anônimo disse...

'comunicação social', 'subir para cima', 'descer para baixo' e por aí vai.

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